O acidente vascular cerebral (AVC), fraturas em membros inferiores, procedimentos cirúrgicos de emergência entre outras afecções repentinas são alguns exemplos de situações que pegam as famílias de surpresa, e na maioria das vezes, elas não estão preparadas para assumir os cuidados de seu familiar.
Prestar cuidado à saúde é uma atividade que exige conhecimentos, requer competências e habilidades e, nesse contexto, o cuidador familiar precisa ser orientado sobre a melhor forma de realizar estas atividades até então novas para ele.
Os cuidados oferecidos pelo cuidador familiar permeiam às atividades que chamamos de Atividade de Vida Diária (AVD), que são relacionadas ao Autocuidado, Mobilidade, Alimentação e Higiene pessoal do paciente.
Entre as maiores dificuldades citadas pelos cuidadores estão às atividades relacionadas à higiene pessoal e sem duvidas o banho no leito é considerado a maior delas.
Se levarmos em consideração o perfil do cuidador familiar e a natureza da atividade de banho, entenderemos o motivo de tal queixa. Ao traçar o perfil dos cuidadores familiar vimos que geralmente são mulheres, com idade entre 20 a 81 anos de idade, ou seja, muitas vezes também já idosas. Quanto à natureza da atividade, é evidente o esforço físico exigido para a realização das transferências (de cama para cadeira de banho e vice-versa) associado à má postura ao realizar o procedimento.
Nos próximos parágrafos discorreremos sobre qual a melhor forma de realizar esta tarefa, trazendo dicas de postura corporal segura ao cuidador, técnicas corretas e adaptações que facilitam a vida do cuidador.
PLANEJANDO O BANHO
É importante planejar o banho para que ele aconteça de forma segura e confortável ao paciente. Sempre que possível o cuidador deverá solicitar ajuda, principalmente se o paciente for pesado ou sinta muitas dores nas trocas de posição. Devemos levar em consideração que o banho pode ser considerado uma experiência desagradável para muitos idosos. Muitos estão fragilizados psicologicamente por necessitar de ajuda, sentem vergonha por ter que se despir na presença de um familiar, queixa-se de frio e muitos simplesmente são arredios ao banho por simples teimosia. Portanto, o banho deve ser um momento agradável e seguro ao paciente. Sobre o planejamento:
- A escolha do melhor horário. Inclua o paciente na decisão do horário do banho, sempre que possível negocie, isso proporciona autonomia ao paciente trazendo-lhe benefícios psicológicos. Tenha em mente que para a realização de um bom banho leva-se tempo, portanto, separe um horário que não interfira na rotina da casa e que não exija que o procedimento seja realizado as pressas por questões de segurança. Inicialmente separe uma hora do dia e conforme for criando pratica o cuidador necessitará de menor tempo para realiza-lo.
- Feche a porta do quarto. A privacidade é muito importante, pois o idoso não pode sentir-se invadido, sempre informe ao paciente o próximo passo. Ex: ´´agora vou tirar a roupa do senhor, com licença´´.
- Mantenha a temperatura ambiente agradável, escolha horários mais adequados no inverno, evite correntes de ar e se for necessário faça uso de um aquecedor em dias frios.
- Caso o colchão do paciente não possua uma capa impermeável utilize algumas toalhas para forrar o leito e neste caso utilize o mínimo de agua possível.
- Reúna todos os suprimentos necessários antes de começar para não ter que deixar o paciente sozinho.
BANHO NO LEITO
Encha duas bacias de água morna, com a temperatura sensível ao toque.
Deixe à disposição ao menos três toalhas grandes, sabonete, shampoo, bucha ou pano, o que for necessário. Organize-os o mais próximo possível.
Avise o paciente que irá despi-lo, faça de uma forma natural para que ele não se sinta constrangido. Sempre que possível solicite ajuda do paciente, isso contribuirá em sua recuperação.
A higiene deve sempre iniciar pela sequência cabeça-pés: primeiro os cabelos, rosto, ouvidos, pescoço. Lavar os braços, o tórax e a barriga, secando-os e cobrindo-os. Cuidado especial na região sob as mamas nas mulheres, enxugando bem para evitar assaduras e micoses. A seguir passa-se às pernas, secando-as e cobrindo-as. A secagem deve ser minuciosa.
Dicas de adaptações.
Na ausência deste recurso o cuidador poderá utilizar uma bacia comum adaptada com coxins de toalhas e travesseiros para posicionar confortavelmente o pescoço do paciente na borda da bacia. Outra sugestão seria utilizar varias toalhas para absorver toda a água utilizada, portanto, neste caso utilizar o mínimo de água possível.
Este recurso trata-se de um lençol impermeável com uma válvula de escoamento, seu único ponto negativo é o fato de poder ser utilizado somente em camas hospitalares.
O banho no leito exige a adoção por parte do cuidador de posturas inadequadas. A altura da cama geralmente é um dos fatores que favorecem a adoção destas posturas, portanto, recomenda-se que seja realizada uma adaptação a fim de deixá-la mais alta, solicite a ajuda de um marceneiro para adaptar calços nos pés da cama. O ideal seria a troca da cama comum por uma hospitalar.
Orientações posturais
Orientações posturais e princípios básicos de biomecânica corporal são informações de extrema importância aos cuidadores. Segue abaixo algumas dicas:
- Mantenha as costas eretas. O cuidador deverá evitar movimentos de flexão anterior de tronco, priorize a estabilização lombar realizando contrações abdominais ao agachar, flexione os joelhos em vez de curvar a coluna.
- Use seu peso corporal como um contrapeso ao do paciente. Mantenha sempre os dois pés levemente afastados e apoiados no chão. Evite posicionar os pés em níveis diferentes ao mobilizar o paciente (Ex: Pé direito em um degrau e esquerdo no chão).
- Ao realizar as transferências abrace o paciente, traga-o o mais próximo possível de você.
- Realize as transferências e troca de decúbito com a ajuda de, pelo menos, duas pessoas, sempre utilizando movimentos sincrônicos.
- Todo processo de aprendizado inicialmente pode parecer difícil, porém, com o passar do tempo o cuidador se sentirá confiante e experimentará a gostosa sensação de dever cumprido.Muitas vezes as experiências no cuidado de um familiar despertam no cuidador a vontade de profissionaliza-se e entrar para o mercado de trabalho, pois sente que ´´leva jeito´´ com o paciente idoso, associando assim uma atividade prazerosa à uma nova fonte de renda.